domingo, 8 de julho de 2012

Ah, que saudade da Neguinha...


Naquelas tardes estranhas e à meia-luz, de uma vida atribulada e (cada vez mais) dilacerada em São José do Rio Preto, algumas coisas realmente boas às vezes aconteciam. Na verdade, não eram quaisquer coisas boas, eram coisas de uma beleza, de uma singeleza e de um amor que soam inacreditáveis, agora que o tempo se encarregou de distanciar um pouco as coisas.

Mesmo naqueles dias.

Pois foi nesta época, ano de 2005, que minha irmã mais velha apareceu com uma novidade: uma cachorrinha poodle, que a princípio, era um presente para minha outra irmã, e viria se somar ao já familiarizado e querido Idupi. Idupi também é um Poodle (mestiçado com Maltês), mas ao contrário dele, a nova amiguinha não tinha pêlos de cor champanhe, e sim pretos, com algumas variações cor de grafite. Uma verdadeira poodle negra. Seu nome era Nina, mas ela também podia ser Menina, Linda, Lindinha, e também Neguinha.

Em comum com Idupi, Nina, a Neguinha, só tinha parte do DNA da raça. No comportamento, era completamente diferente. Também por ser ainda uma filhotinha enquanto Idupi já tinha seus 1 ou 2 aninhos (o que equivalem a uns 10 anos de vida humana, pois cada ano canino equivale a sete dos nossos), Nina era mais lépida, vivaz, veloz, mas não sofria dos mesmos defeitos do Idupi. Ele, apesar de toda sua arrogância e soberba, e a estridência típica de um inconveniente poodle, era meio bobinho, meio desajeitado, corria de uma maneira que não raro o resultado era se chocar contra a parede, ou escorregar - um verdadeiro moleque desajeitado. Já Nina não veio para tal vexame. Era esperta e atenta, mas nunca tola. Pelo contrário. Abusava da paciência de Idupi por querer brincar a toda hora. Ele, ostentando um ar de enfado e apatia tão evidentes, pouco faltou para falar com todas as letras "não enche o meu saco!". Mas ela, sem poder contar com a disposição de seu amigo branco, ficava determinadamente pulando e se atirando pra cima daquele "grandalhaozinho bobo".

Mas o maior encanto da Nina, para mim, não foi a capacidade de brincar feito moleca sem fazer as besteiras que o Idupi fazia. Ela tinha ainda mais. Havia um charme e um senso de elegância que a fazia saber quando ser eloquente, brincalhona, moleca, e quando ser apenas séria e se comportar. Eu assistia tv aos domingos com ela, que ficava apenas em volta, sem latidos fora de hora por qualquer motivo, sem sujeiras fora do lugar. Ela ficava em silêncio, circulando e indo beber água hora ou outra, pra se refrescar naquele calor infernal de Rio Preto (quem conhece a cidade, sabe de que calor desértico estou falando!).

Não raro eu adormecia quando assistia tv, deitado no sofá azul da sala, com Nina ao meu lado. Quando isso acontecia, aquele singelo bichinho apenas subia no meu peito, se acomodava e começava a dormir ali mesmo, calmamente. Sem medo, sem culpa, sem tempo pra terminar. Tudo em um silêncio e uma paz indescritíveis e talvez apenas decifráveis pela vida animal. Uma paz que hoje também não sinto no coração. Tudo numa perfeição que me faz recordar vez ou outra que o mundo e a natureza foram projetados para serem perfeitos, e nós humanos é que temos "o dom" de estragar tudo com nossos vícios e mazelas.

Mas ela não podia ficar em casa. Minha irmã não cuidava muito bem dela, e acavaba sobrando muito trabalho desnecessário pra minha mãe. As coisas não podiam continuar assim. Teriam que se desfazer dela. Sentindo dor no coração por saber que Nina ia embora de casa, acompanhei todo o "processo" de doação para uma família de gente da igreja que minha irmã frequenta (ou frequentava, já não sei mais). A família pareceu bastante responsável, o menino dessa família estava muito feliz em receber a Nina. Parecia que, apesar de sua estada em minha casa estar terminando, tudo estaria bem com ela dali em diante também. Eu estava triste, mas ao mesmo tempo tranquilo e confiante no futuro dela.

Alguns dias depois, recebemos uma notícia muito triste: Nina tinha falecido de uma doença que a fazia ter convulsões, uma doença congênita, que não me lembro de a ter manifestado em casa, mas que tinha sido devidamente diagnosticada por um veterinário. A estada da Neguinha nesse mundo foi muito, muito pequena. Não tenho a conta, mas foram alguns meses, acho. Naquele dia, mesmo já não convivendo com ela há um tempo e não tendo acompanhado seu falecimento, Idupi chorou, deprimido, recluso, sem um motivo aparente. Mas no fundo a gente sabia: ele sentiu a morte dela. Ele sentiu que aquela que tanto o incomodava ali em casa, e lhe era amada, tinha ido embora para sempre. Os poodles são cães de uma inteligência que ainda impressiona os estudiosos, dizem.

E eu, que não sou poodle, e não sou nem mesmo um cão, mas sabia o quão bom era dormir numa tarde de domingo no sofá da sala com a Neguinha deitada no meu peito...Eu só não tinha ainda a completa noção do valor daqueles pequenos momentos, do quanto aquilo era belo, e único, e precioso. Aquele sentimento de perfeição e de compleição. Nada faltava. Tudo estava no lugar certo. O pôr-do-sol, a paisagem árida de Rio Preto, eu, o sofá azul, e a Nina, singelamente deitada e acordando com minha movimentação, recebendo um afago que eu não suspeitei em nenhum momento, sequer pude imaginar, que seria o último que ela recebeu.

Ela deve estar continuando sua trajetória evolutiva, eu acredito quando os budistas dizem que os animais também estão em processo de evolução e nós mesmos já fomos como eles. Deve estar em paz, é o que desejo.

Mas naquele dia terrível, a tristeza de Idupi também traduzia a minha. Eu também chorei sua ausência, recolhido, no meu quarto. Silenciosamente. Com elegância, como ela, Nina, a amada e eterna Neguinha, me ensinou a fazer.

sábado, 7 de julho de 2012

Blob - um editor Blogger para Symbian (na verdade, o único)


Já este segundo post 'pré-inaugural' é sobre a própria ferramenta que utilizo para fazê-lo e publicá-lo: o Blob para aparelhos com o SO Symbian (o aparelho que utilizo pra blogar é o ótimo N8, da Nokia). Poder blogar de praticamente qualquer lugar é uma possibilidade legal e tanto, e o aplicativo cumpre o que promete. De maneira bastante básica, mas cumpre.

Os recursos parecem ser suficientes para fazer as postagens aqui. E na versão atual (2.5.1) é possível inclusive agregar imagens aos posts, uma possibilidade que não existia nas versões anteriores e é muito bem-vinda.

Você pode baixar os arquivos do aplicativo em sua versão gratuita aqui, bastando acessar este link (uma nova janela se abrirá. Basta aguardar por 5 segundos e clicar na mensagem 'fechar propaganda' que vai aparecer no topo da tela à direita).

Baixei a versão gratuita da lojinha da Nokia, sem limitações em relação à versão paga, exceto por uma mensagem popup que até agora não me incomodou nem um pouco (só apareceu uma vez quando abri o programa).

Promissor. Vejamos como fica, nas próximas atualizações.